quarta-feira, 7 de outubro de 2009

O Milagre



As rugas na face do homem sofredor mais parece terra seca que cria veios em seu solo,
Se resigna com a situação que se impõe, curva sua cerviz diante do até quando,
Na verdade o até quando não mais existe, só resta o ser tangido como boi de manejo.

A sede da terra pelas águas se compara ao homem,
No início a vegetação se extinguindo, depois a terra se rachando e mais a frente à terra se tornando pó.
Na contramão da lógica, o pó não se torna barro e depois com um sopro, em vida.

A desesperança tem a capacidade de ser letal,
Faz com que o homem abandone a vida no meio da jornada,
Faz com que nem sonhos e nem pesadelos sobrevivam,
Oxalá os pesadelos subsistissem, seria um sinal de que o pulsar permanecia.

A dureza da desesperança se compara à rigidez da morte,
A vida se esvai e voltando a ser pó o sopro não gera fôlego algum,
O sopro só lança longe o nada que restou.
O que urge?

A misericórdia, a bondade que surge aparentemente do nada,
O amor que se dá por aquilo que deixou de ser,
A voz que conclama a vida,
O caminho que sempre existiu e nunca foi visto,
O florir que explode em milhões de cores e odores, chamando os sentidos que se embotaram a um novo viver.
A língua seca que se apegava ao céu da boca, sendo surpreendida pelo surgimento da água que insípida e inodora, cumpre a risca o seu papel redentor.
A chuva que contrariando conceitos se derrama copiosa de um céu total e esplendorosamente azul. 
As águas que caindo sobre o pó o faz se assentar sobre o solo, buscando veios por onde correm, por caminhos a muito esquecidos.

A mesma água desliza sobre o rosto marcado,
Escorre pelos vincos da face irrigando a vida que cheirava a morte, desde o tempo que se chamava sempre.
Agora o sempre não mais existe, o sempre se chama momento e o momento se chama passado, porque o que era definitivo já não é.

A desesperança foi tragada, as águas trouxeram os sonhos, pesadelos, risos e dores, expressões, trouxe o saciar da sede e da fome, trouxe o que é comum à vida, trouxe a real possibilidade de ser.
As muitas águas carregaram toda a imobilidade, toda rigidez tão típica e presente na morte em vida.

E agora o que resta?
O começo da eternidade,
A vida que brotou tão somente do amor pelo nada que somos!

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