terça-feira, 30 de agosto de 2011

O Ancião!


Um velho senhor de 83 anos, sentado em sua cadeira de balanço na varanda de sua casa, olhava ao longe como que perdido em seus pensamentos. Pele morena curtida pelo sol, mãos calejadas pelo labor na lavoura, chapéu de palha em sua cabeça e com um dos pés sobre o assento da cadeira. Todo dia lá pelas 5 horas da tarde, chegava o seu Florêncio e deixando suas ferramentas de trabalho no carrinho de mão, lavava suas mãos e sentava confortavelmente em sua cadeira. Dona Gertrudes sua esposa, apressava-se a trazer-lhe um café na caneca de alumínio, que acabará de passar no velho coador de pano. Um afago entre os dois e seu Florêncio ficava a divagar em seus pensamentos, enquanto o sol preguiçosamente apontava seu ocaso.
A passarinhada perto da viração do dia alvoroçava-se, antes de se acomodarem em seus ninhos; a bicharada pouco a pouco ia se aquietando. A transformação que se dava do dia para a noite deixava seu Florêncio completamente deslumbrado; parecia que ele via neste momento impar a sua própria vida, que já não mais era aurora e perto estava do fim.
Um jovem, neto de um vizinho, moço inteligente que foi estudar na cidade grande, passava neste dia pelas terras de seu Florêncio, educado e bom moço, ao ver seu Florêncio sentado falou:
---- Boa tarde Seu Florêncio.
---- Tarde mininu, aprochegue-se, tem tempo que não temos uma prosa, vem tomar um cafezim que a dona Gertrudes acabou de passar gorinha mermu. Sente aqui por uns instantinhos e conta pro véio como vai à vida.
O rapaz com largo sorriso sentou-se, depois de estender a mão e fazer o desfecho daquela amistosa saudação. Dona Gertrudes de imediato apressou-se e serviu uma caneca de café ao rapaz. Seu Florêncio sem pressa perguntou ao jovem rapaz:
---- Intão meu fio, como esta sua lida? Seus avós to sempre venu por aí, mas ocê é coisa rara. Já se formou Dotô?
---- Que nada seu Florêncio, falta um ano ainda, só aproveitando a folga para ver meus avós. Tenho muito que estudar, porque a vida que meu avô e pai levaram não foi fácil e pretendo ter uma história diferente.
---- Ixiii Fio, cunheçu seu avô a um par de anos, fomu criado solto aqui no meio do matu, no tempo que pra ir a venda era chão pra mais de légua. Tempo difirci mermo.
Conta pro véio, muitos amigos lá na cidade?
----- Quem dera seu Florêncio, é uma correria só. Trabalho, estudo e tenho uma namorada, sobra tempo para nada.
------ Hummmm E pro modo de que, fala que num tem amigos, pra que tanta correria mininu?
---- Ué seu Florêncio, os tempos são outros. Preciso me preparar para o futuro, o que será de meu futuro se não me preparar?
---- Hummmm. Certo, ocê é mininu estudado deve intende das coisa. Mas me conta mais um cadim. Ta estudanu pra vira médico né?
---- Isto mesmo seu Florêncio. Daqui a um ano acabarei uma etapa de 5 anos, daí tenho que estudar mais uns 2 para ter minha especialização e pretendo ainda fazer mestrado e quem sabe doutorado.
----- Que belezura meu fio. Se o véio entendeu, ocê vai estuda mais ou menu uns 12 ou 15 anos pra conseguir isto tudo aí né?
----- Por aí seu Florêncio, para me tornar de fato doutor é por aí.
Falou o Jovem com um sorriso maroto, pensando consigo mesmo na ingenuidade do velho ancião. Seu Florêncio pensativo retoma a conversa:
----- Sabe fio, eu fico encafifado, pensando cá com meus butões. Ocê vai ficar prontinho di tudo lá pelos 30 anos ou perto dissu.; daí disse pru véio que num tem tempo pros amigos, pra jugá conversa fora.
Ocê já parou pra pensá, que de onde ocê ta, até onde eu tô é só um pulinho?
---- Como assim seu Florêncio? Questiona o rapaz sorrindo.
---- Fio do céu. Só tenho 83 anos, ontem mermu eu mais seu avô fazíamos traquinagens por aí, o que separa ocê do veio é um sopro.
Uma belezura de verdadi, ocê vira dotô, mas cuida si mininu. De que vali sê doto e não produzi amô, nesta Terra di meu Deus?
Sou só um veio pertinho da partida, mas durante minha jurnada, muitos tiveram guarida. Neste coração traiçoeiro que já me pregou muitas peça, nunca faltou amô e não faltará no que resta, nos dia de meu labô.
Sabe Fio, as coisa qui fazemu são importantis, mas as coisa qui amamos faz a gente ser o que é.
O jovem já com o semblante sério, agradece o café e se despede de seu Florêncio e de dona Gertudres. Seu Florêncio continua sentado olhando ao longe o jovem partir, a caminho da casa de seus avós.
Dona Gertrudes se aproxima sorrindo e diz:
---- O meu véio. Você ouviu minha conversa com a comadre, foi?
---- Ô minha fia, só tavu falanu pro menino que tem coisa que são boa e outras que tem valô. Quem sabe ele aprende, que a vida também faz dotô? Um mininu bom e esperto; espero que ele atente, que menos vali as coisa e mais vale a gente, que se conquista com ardô.
To disconfiado que a comadre vai ver mais este mininu por aqui. To axanu que ele vai saber dosar as coisa, pra adespois num xorá o leiti derramadu.
O Sol se pondo e seu Florêncio mais dona Gertrudes se recolhem.

“Ensina-nos a contar os nossos dias, de tal maneira que alcancemos corações sábios.” Sl 90:12

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